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POR QUE REPETIMOS OS MESMOS ERROS?

Atualizado: 27 de set.


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A repetição de experiências dolorosas é um fenômeno que sempre me intrigou - por que nos vemos de forma recorrente em situações que buscamos evitar? É o caso, por exemplo, daqueles que só conhecem um mesmo desfecho para as relações amorosas (rejeição, traição, desinteresse), dos que mudam de emprego e até de profissão mas encontram as mesmas dificuldades nos mais diversos ambientes, ou também dos que sofrem das mesmas frustrações com diferentes amigos ou familiares, conflitos sempre tão difíceis de se atravessar. Às vezes parece até que a pessoa “atrai” tais situações, quando a repetição é tão marcada que não dá pra alegar


coincidência. E o mais intrigante disso tudo é que essa experiência constantemente revivida é justamente aquele ponto nevrálgico para cada um, o “calo” que faz cada um sofrer à sua maneira. É, por definição, um ponto traumático.


A repetição é um fenômeno que deve ser abordado em suas muitas camadas. De um lado, existem as situações em que a pessoa contribui, de forma involuntária, na produção de um mesmo desfecho indesejável. É como se, sem perceber, traçasse sempre um caminho que a leva ao mesmo lugar. Nestes casos, o que faz com que o sujeito repita os mesmos “erros”, até quando busca evitá-los, seria uma força desconhecida que o impele nesta direção - o tal do inconsciente, e somente no decorrer de uma análise será possível destrinchar e desatar esses nós. A própria existência do inconsciente implica em que não somos "senhores em nossa morada" (como já diria Freud), e que grande parte de nossas vidas, conquistas e fracassos são determinados por forças inconscientes que muitas vezes ignoramos.


Por outro lado, existe uma dimensão anterior da repetição que está ancorada no conceito do trauma. O trauma pode ser entendido como aquele acontecimento que, na vida de cada um, deixa uma marca, uma dor, delimitando aquilo que será sensível e difícil para cada pessoa; aquilo que será traumático. É por isso que dizemos que o trauma não fica no passado, ele se atualiza ao longo de nossas vidas, se fazendo presente de forma mais ou menos intensa em nossos dias. Daí de repetirmos justamente as situações que são mais difíceis para nós, repetimos experiências dolorosas, e não prazerosas. Ao mesmo tempo, se repetimos é porque há algo ainda a ser falado sobre isso e elaborado ao longo de uma análise.


Existe um paradoxo no fenômeno da repetição: se, por um lado, repetimos um trauma antigo, por força do tempo a cada nova repetição serão incluídos novos elementos ao seu enredo (não se pode entrar duas vezes no mesmo rio), e é a partir destas pequenas diferenças encontradas na repetição que o paciente poderá, a cada vez e num processo de análise, construir a sua saída para além do trauma e da repetição, encontrando novos caminhos para seguir, mais de acordo com seu desejo.


 
 
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