top of page

TERAPIA TRATA ANSIEDADE?


Uma travessia delicada

A ansiedade é um quadro que tem sido muito debatido ultimamente devido à sua aparição cada vez mais frequente na clínica, podendo se manifestar de diversas formas. Há aqueles que sofrem da síndrome do pânico, em que a pessoa vivencia crises de intensa angústia acompanhada de alguns sintomas físicos característicos como taquicardia, aperto no peito, falta de ar, sudorese etc. Mas esta não é a única forma de apresentação da ansiedade - pelo contrário, existe uma diversidade de manifestações do quadro que muitas vezes não são reconhecidas como tal.


Algumas disfunções orgânicas crônicas, por exemplo, podem ter origem em processos ansiosos, como alguns casos de problemas estomacais (como azia, gastrite e refluxo), de dores de cabeça/enxaqueca e de tensões musculares (como o bruxismo). O primeiro passo no tratamento de qualquer um destes sintomas é feito, naturalmente, por um médico especializado, mas ao se descartar a existência de causas fisiológicas que justifiquem tais disfunções é levantada a hipótese de se tratar de um quadro de fundo emocional/psicológico. Por isso não é incomum que um médico indique seus pacientes a procurar por atendimento psicológico, pois existem casos em que a resolução efetiva do problema de saúde passará necessariamente pela elaboração das questões subjetivas em jogo em cada caso e por um reposicionamento do sujeito em relação a elas.


Outra forma de manifestação da ansiedade se dá na ausência de sintomas corporais, quando a pessoa experimenta uma forte sensação de angústia e desorientação, como se tivesse perdido seus referenciais, sendo muitas vezes tomado por pensamentos e atos que não controla ou não reconhece como seus. É o caso, por exemplo, de atos “desesperados” em que a pessoa se coloca em risco, se machuca ou machuca a outrem sem que haja uma real intenção de fazê-lo, mas assim faz por não encontrar outros meios de dar vazão à angústia. É o caso também de alguns tipos de insônia e compulsões, quando o sujeito se vê tomado por uma força mais forte do que ele, que não consegue mediar.


Há também os casos de dificuldade de concentração/desatenção e às vezes de uma agitação que toma conta do corpo da pessoa e a leva a se empenhar numa sucessão de atividades na tentativa de dar conta disso que perturba seu corpo. Por isso é preciso ter cuidado em relação ao diagnóstico de TDAH, pois existem casos em que a desatenção acompanhada ou não de uma agitação é na verdade provocada por um processo ansioso.


Atravessar a fissura do trauma

As diferentes apresentações da ansiedade mencionadas acima têm em comum o fato de que aquele que delas padece geralmente não sabe identificar a que este afeto (ansioso) está relacionado, como se estivesse diante de um precipício que não sabe como atravessar. Entendo que diante de quadros assim, onde a angústia/ansiedade aparecem de forma solta, não encadeadas a uma história, o tratamento psicanalítico possibilita que a pessoa possa começar a se localizar diante disso que a assola, sendo convidada a colocar em palavras aquilo que antes restava insondável a tomar seu corpo e seu ser.


Existe algo de traumático em jogo nos quadros de ansiedade, e seu tratamento passa inevitavelmente pela via da elaboração, em que o paciente será convidado a subjetivar esse mal-estar que o acomete a partir de seus anseios e de sua história. O mero fato de o sujeito poder situar-se diante dos eventos traumáticos que ocasionaram o adoecimento ansioso tem efeito terapêutico em muitos casos.


Assim, num primeiro tempo do tratamento destes quadros se buscará reestabelecer as coordenadas que orientam o sujeito para que num segundo momento seja possível ao paciente construir novos recursos para lidar com esse traumático que se apresenta de forma tão bruta nos quadros de ansiedade, de maneira que possa erigir novos caminhos para seguir, atravessando a angústia.


Cabe ressaltar ainda o fator tempo nessa engenhosa equação, já que o tratamento da ansiedade é um processo e não pode ser efetuado sem um certo intervalo de tempo - intervalo por sinal muito bem-vindo e mesmo necessário na construção de novos futuros.


Para finalizar, vale lembrar que assim como as demais formas de adoecimento psíquico a ansiedade não é unicamente um processo individual, mas diz respeito aos valores e às formas de relação estabelecidas em uma determinada cultura. O mundo contemporâneo é marcado por uma série de características que acentuam de uma forma ou de outra a dimensão traumática da vida de cada um, e não é à toa que estamos cada vez mais ansiosos. Mas isso já é tema para outro texto, em breve aqui no blog.

Clique aqui e fale conosco

Link Whatsapp
bottom of page