ALGUMAS ORIENTAÇÕES PARA QUEM DESEJA INICIAR UMA ANÁLISE
- Clara Fontes
- 2 de set. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mai.

Elaborei este texto pensando em algumas questões relativas ao funcionamento do tratamento que apareceram mais de uma vez em minha clínica. O objetivo destas informações que compartilho é favorecer que aquele que deseja começar uma análise encontre menos obstáculos em seu percurso.
Em primeiro lugar, acho importante colocar que não existe caso "menos importante" em que a situação que o paciente se encontra não justifique um acompanhamento psicológico. Se uma pessoa procura ajuda é porque está lidando com algum conflito que não consegue resolver sozinha e deseja tratar disso com um profissional qualificado. Alguns pacientes já me relataram não se sentir "à altura" de começar um tratamento psicológico, como se somente pessoas gravemente adoecidas tivessem essa indicação. Isso não é verdade.
Existe um entendimento comum de que o psicanalista fica em silêncio a maior parte da sessão ou quase não contribui com nada. De fato existem psicanalistas que se colocam de forma muito pontual em seus atendimentos, mas isso não deve ser generalizado. Cada vez mais vejo em minha clínica que existem formas mais interessantes de favorecer o andamento da análise que não o silêncio, e não me considero esse tipo de analista que quase nada fala.
Dito isto, vale lembrar que o que importa no tratamento é o que o paciente tem a dizer e, a partir disso, o trabalho de elaboração que tem por fazer. Por isso não cabe ao analista compartilhar nas sessões suas experiências pessoais, pois isso nada acrescentaria ao tratamento. Se o analista tem um “ar” mais reservado é porque ele preza por resguardar espaço àquilo que realmente importa em uma análise - a história e as questões de cada paciente.
A questão da duração das sessões é outro ponto que vale comentar. Apesar de haver uma certa regularidade na duração dos atendimentos, nem toda sessão tem a mesma duração porque o que vale para o bom andamento do tratamento não é a quantidade de coisas que são ditas, mas o valor do que é dito no sentido de ajudar o paciente a se liberar daquilo que o amarra. Às vezes encerramos uma sessão porque reconhecemos que aquilo que foi dito tem um valor diferenciado no percurso de análise daquele sujeito, e não o contrário.
Um ponto fundamental para que o tratamento avance diz respeito à frequência dos atendimentos, isto é, à própria presença do paciente nas sessões. Apesar de parecer algo óbvio, existe uma ideia de que só é preciso ir ao psicólogo quando se está mal ou angustiado, e naqueles dias que o paciente está bem ou "sem assunto" não é necessário ir para a sessão. Essa ideia é falsa, pois os atendimentos não servem apenas para apaziguar a angústia do paciente nos momentos mais delicados. Se fosse assim, chamaríamos de SOS e não tratamento. Para tratar a causa daquilo que levou o sujeito a procurar ajuda é necessário uma certa regularidade dos encontros. Quando o paciente começa a faltar muito ou desmarcar as sessões ele é o maior prejudicado, pois é o seu tratamento que fica debilitado.
Para me dirigir à conclusão, vou falar de uma questão que já escutei algumas vezes dentro e fora da clínica: o sujeito que diz não precisar de tratamento psicológico porque ele mesmo se “auto analisa”. Isso é um equívoco e muitas vezes é mesmo perigoso, pois sem um outro qualificado que possa escutar e pontuar os caminhos que o sujeito está percorrendo em suas reflexões a tendência é que ele se afunde cada vez mais em sua neurose, ao invés de libertar-se dela. Nesse sentido, é provável que o sujeito que invista nesta direção se torne ainda mais neurótico.
É comum que aqueles que praticam a “auto análise” se valham de algum conhecimento prévio que têm da psicologia ou da psicanálise, mas eles não são os únicos a fazerem essa confusão. Não é raro que um paciente chegue ao tratamento preocupado em produzir aquilo que entende ser esperado de uma análise, o que ao invés de ajudar acaba atrapalhando o andamento do processo. Apesar de a psicanálise ser muito difundida em nossa cultura e de praticamente todo mundo ter algum conhecimento ou opinião a respeito, esses dizeres que circulam socialmente são recortes muito reduzidos e simplificados da questão e não se comparam à dedicação de tempo e estudo dos quais é preciso dispor para conduzir um tratamento de forma séria. Assim, o melhor a se fazer ao chegar no atendimento é deixar de lado esses saberes e simplesmente "falar aquilo que vem à cabeça", como já diria Freud, sem se preocupar se o que será dito faz sentido ou não.